Foi-se o tempo em que visitar a casa de número 145 na rua Dom Pedro I, em Uberaba, Minas Gerais, significava imergir no universo simples e austero de Chico Xavier, o maior médium brasileiro de todos os tempos. Hoje, quem visita o endereço que já foi destino de centenas de milhares de devotos pode nem reconhecer o prédio usado como residência e centro espírita do líder religioso de 1975 a 2002, ano de sua morte. Descaracterizado por reformas aparentemente bem-intencionadas, mas malconduzidas, o prédio está muito diferente. A fachada, originalmente pintada de azul-claro e recortada por portões azul-anil, foi substituída por um muro alto e abrutalhado, coberto de rebuscadas molduras de gesso, janelas envidraçadas, placas publicitárias e um letreiro em luz néon que reproduz a assinatura do médium. Mudanças que desrespeitam as mais básicas técnicas de preservação da identidade histórica e cultural. “A casa está passando por intervenções inapropriadas”, alerta a procuradora da República Raquel Cristina Rezende Silvestre, da comarca de Uberaba.
Mas não só a casa está correndo perigo. Raquel é autora de uma demanda civil pública ajuizada no fim de 2011 que pede o tombamento imediato, tanto da residência quanto do acervo de Chico Xavier, hoje guardado dentro do imóvel, que também faz as vezes de museu e moradia do filho adotivo e administrador do espólio do espírita, Eurípedes Higino dos Reis. Composto por milhares de livros, esculturas, móveis, documentos, roupas e condecorações, o conjunto de objetos deixados por Chico nem sequer foi inventariado. O controle do que está lá foi feito com base na memória visual de Reis. Assim, se um livro autografado pelo religioso for perdido, se uma das muitas boinas do museu sumir ou se um móvel for danificado, será difícil identificar o problema, já que, na prática, os objetos armazenados ou o estado em que eles se encontram são desconhecidos.
Mas não só a casa está correndo perigo. Raquel é autora de uma demanda civil pública ajuizada no fim de 2011 que pede o tombamento imediato, tanto da residência quanto do acervo de Chico Xavier, hoje guardado dentro do imóvel, que também faz as vezes de museu e moradia do filho adotivo e administrador do espólio do espírita, Eurípedes Higino dos Reis. Composto por milhares de livros, esculturas, móveis, documentos, roupas e condecorações, o conjunto de objetos deixados por Chico nem sequer foi inventariado. O controle do que está lá foi feito com base na memória visual de Reis. Assim, se um livro autografado pelo religioso for perdido, se uma das muitas boinas do museu sumir ou se um móvel for danificado, será difícil identificar o problema, já que, na prática, os objetos armazenados ou o estado em que eles se encontram são desconhecidos.
E como se o sistema falho, senão inexistente, de catalogação já não fosse o suficiente, os itens hoje expostos no museu Chico Xavier não seguem nenhum protocolo museográfico que proteja o acervo contra roubos e descaracterizações. Em alguns casos, o que fica exposto está mais amontoado do que, de fato, exibido. “Todos foram inquestionavelmente omissos em adotar medidas protetivas”, reforça a procuradora Raquel, que acionou não só Reis, mas também o município de Uberaba, o Estado de Minas Gerais, a União e órgãos de proteção do patrimônio público, como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/MG).
Mas há quem discorde da avaliação da procuradora. Geraldo Lemos, administrador da casa de Chico Xavier em Pedro Leopoldo, também em Minas Gerais, e amigo de Reis, tem suas dúvidas quanto à proposta de passar para o Estado a responsabilidade de cuidar do acervo do médium. “Tem tanto museu que é administrado pelo governo, mas que está completamente abandonado”, afirma. “Em última instância, acho que deixar o acervo de Chico nas mãos dos espíritas, que são os maiores interessados em preservá-lo, é a melhor alternativa.” A amiga da família de Chico e vizinha da casa na rua Dom Pedro I, Kátia Maria, lembra ainda que o médium nunca gostou que mexessem em suas coisas. “Sempre respeitaram essa exigência e espero que continuem respeitando”, diz. Sobre as inegáveis mudanças na fachada, ela argumenta que foram todas “mudanças para melhor”.
Mas há quem discorde da avaliação da procuradora. Geraldo Lemos, administrador da casa de Chico Xavier em Pedro Leopoldo, também em Minas Gerais, e amigo de Reis, tem suas dúvidas quanto à proposta de passar para o Estado a responsabilidade de cuidar do acervo do médium. “Tem tanto museu que é administrado pelo governo, mas que está completamente abandonado”, afirma. “Em última instância, acho que deixar o acervo de Chico nas mãos dos espíritas, que são os maiores interessados em preservá-lo, é a melhor alternativa.” A amiga da família de Chico e vizinha da casa na rua Dom Pedro I, Kátia Maria, lembra ainda que o médium nunca gostou que mexessem em suas coisas. “Sempre respeitaram essa exigência e espero que continuem respeitando”, diz. Sobre as inegáveis mudanças na fachada, ela argumenta que foram todas “mudanças para melhor”.
Mesmo conhecendo esses argumentos, a procuradora continua convencida de que o tombamento é necessário. A urgência do caso é tamanha que ela chega a pedir a chamada antecipação da tutela na demanda civil. Se o juiz aceitar o pedido, esse instrumento jurídico, que pode ser usado quando a integridade de um patrimônio cultural corre risco de sofrer danos irreparáveis, acelerará o processo de tombamento. “Ainda assim, o bem não passará ao patrimônio público e continuará sendo privado”, afirma Raquel. “Ele apenas sofrerá limitações às modificações que o descaracterizem.” Se os envolvidos entrarem em acordo, todo o imbróglio deve se resolver imediatamente. Se isso não acontecer e não houver a antecipação de tutela, uma decisão final sobre o caso pode levar meses ou anos para sair. Até lá, o acervo de um dos maiores líderes religiosos do Brasil seguirá em risco.
ISTO É
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