Interpretações demasiadamente tranquilizadoras cercam a história do Partido dos Trabalhadores, que nasceu da vontade popular e chegou ao poder ao liderar uma ampla aliança. Sua trajetória, contudo, é complexa. Basta observar que em 2005, durante o chamado mensalão, uma ocorrência frustrou tanto aqueles que detectavam nos êxitos eleitorais uma estratégia política vitoriosa quanto os que viam no partido uma mera máquina eleitoral. A mobilização espontânea das bases do PT, quando essas pareciam ter perdido importância, manteve o apoio do eleitorado no ano seguinte.
Essa complexidade ajuda a explicar as 300 referências bibliográficas sobre o partido entre 1980 e 2002, segundo a Fundação Perseu Abramo. E um dos livros mais importantes a abordá-lo é o recente História do PT, do professor de História da USP Lincoln Secco (Ateliê, 320 págs., R$ 30). Ele divide a história do partido em fases que intitula formação (1978-1983), oposição social (1984-1989), oposição parlamentar (1990-2002) e partido de governo (2003-2010). Apresenta aspectos fundamentais da trajetória da legenda e questiona interpretações recorrentes sobre ela.
O pioneirismo do PT como agremiação de massas é relativizado. Secco retoma o PCB, fundado por trabalhadores longe dos meios políticos tradicionais e que, no curto período de legalidade (1945-1947), foi ou esteve perto de ser um verdadeiro partido de massas. Segundo o autor, em 1978, era mesmo “difícil separar radicalmente sindicalistas do PCB e do futuro PT”. Mas o sindicalismo vinculado ao PT era contra o imposto sindical e combatia o atrelamento ao Estado, o que o distinguia dos comunistas. Havia também a recusa ao modelo político soviético.
CARTA CAPITAL
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